Pensamentos do milênio

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"A vontade de Deus nunca irá levá-lo aonde a Graça de Deus não irá protegê-lo."

sábado, 18 de dezembro de 2010

Caos no centro de JF

Dezembro na área central
40 mil veículos extras em ruas já saturadas
Eduardo Vanini
Repórter
Até 240 mil veículos chegam a circular este mês em Juiz de Fora, sobrecarregando ainda mais o já problemático trânsito. Somente na cidade, são emplacados 170 mil veículos. A eles, em geral, somam-se outros 30 mil carros da região cujos proprietários trabalham ou estudam no município. Nesta época de compras de final de ano e vestibular na UFJF, marcada também pelas chuvas, estima-se que outros 40 mil automóveis tomem as vias da cidade. A circulação de pedestres também cresce, chegando a 50 mil por dia no centro comercial. O resultado são engarrafamentos frequentes e calçadas lotadas, que já não comportam o número de transeuntes. A Tribuna foi às ruas e flagrou pessoas andando no meio das vias, desrespeito na Área Azul, carros em vagas proibidas, estacionamentos particulares lotados e falta de locais para embarque e desembarque de passageiros.
Segundo a Settra, somente nas duas principais avenidas da área central - Rio Branco e Independência -, o número ultrapassa 80 mil veículos diários. Em épocas comuns, são 67 mil, enquanto, agora, o impacto é de 13.400 veículos a mais. Em vias como a Batista de Oliveira, o cenário é de confusão. Durante a manhã, caminhões estacionam no local para carga e descarga destinada a grandes lojas situadas na área. Com isso, motoristas e carregadores precisam disputar o espaço da via. No decorrer do dia, o passeio não é suficiente para abrigar quem passa pelo local, e pedestres caminham pela rua como se fosse um calçadão.
A sobrecarga também é evidente na Getúlio Vargas. Com os pontos de ônibus lotados, as pessoas são empurradas para o meio da avenida, e muitas chegam a se arriscar entre ônibus em movimento. Já na Francisco Bernardino, o principal entrave é o trânsito, que flui com lentidão por conta do tempo curto em que os sinais ficam abertos. Para quem depende de ônibus e táxis, mais transtornos. Os pontos estão sempre lotados e há reclamação de demora nos serviços. Além disso, boa parte dos locais de embarque não conta com proteção contra as chuvas.
Para a cozinheira Tânia Pires, 47 anos, todas as maneiras de locomoção estão comprometidas em Juiz de Fora. Ela mora no Linhares e depende de ônibus para ir ao Centro. No deslocamento, gasta 45 minutos em um trajeto feito em dez minutos de carro. Além disso, os ônibus estão sempre cheios. Quando chega ao Centro é forçada a caminhar pelas ruas, em algumas vias, devido à falta de espaço nas calçadas. "A cidade cresceu sem ser preparada para suportar esse aumento. Faltam interesse e investimentos em ações definitivas, que acabem com esses problemas."
A funcionária pública Amanda Ferreira, 37, também reclama. De acordo com ela, circular no Centro nessa época "é uma tortura". Conforme ela frisou, além de todos os eventos da época, ainda há as obras da Prefeitura. Como resultado, os congestionamentos triplicaram, na opinião de Amanda. "Acabo ficando sempre atrasada para meus compromissos. Não adianta sair de casa em horários diferenciados porque as retenções ocorrem ao longo de todo o dia", reclamou, citando, ainda, a falta de policiamento nas ruas.
Não há vagas
Além das dificuldades de estacionamento em vagas na Área Azul, os estacionamentos particulares também estão cheios. Em boa parte, há picos ao longo do dia em que a lotação fica esgotada. "Os motoristas reclamam muito. Geralmente já chegam aqui nervosos por conta do trânsito da cidade", relata o gerente do E-park, Toni Franklin, com entradas para Avenida Rio Branco e Rua Santo Antônio. O estabelecimento tem capacidade para 85 carros e recebe cerca de 370 automóveis, entre 8h e 22h. Mesmo assim, pelo menos duas vezes por dia, as entradas precisam ser fechadas pelo esgotamento. "Quem tem carro não abre mão de utilizá-lo para ir ao Centro. Quando chove, é pior ainda", completa.
A mesma situação se repete no estacionamento Santa Rita, localizado na rua de mesmo nome. Conforme relata a gerente Luciana do Vale, em quase todos os dias úteis, entre 15h e16h, a capacidade para 40 carros fica esgotada. No final do dia, passam, em média, 250 veículos pelo estabelecimento.
Trânsito dobra em 10 anos, mas espaço é o mesmo
O secretário de Transporte e Trânsito, Marcio Gomes Bastos, reconhece a existência dos problemas, mas pondera que intervenções já colocadas em prática, como inversão de fluxo dos passageiros nos coletivos e troca de asfalto em algumas vias devem ser lembradas. "Se isso não tivesse sido feito, a cidade estaria parada." Ainda no caso do final de ano, uma série de medidas foi adotada na "Operação Natal", como ampliação da carga horária dos agentes de trânsito de seis para nove horas. Como ele admite, mudanças mais visíveis serão notadas a partir da concretização de obras maiores, já que o trânsito da cidade quase dobrou em dez anos, mas o mesmo espaço viário foi mantido. Sendo assim, o alívio será sentido, na opinião de Marcio, depois de mudanças, como reestruturação da Rio Branco, instalação de pontes e viadutos e até a transposição da malha ferroviária.
A mudança operacional do transporte público também foi uma das necessidades apontadas pelo secretário. Nesse caso, ele lembrou a suspensão do processo licitatório que elegeria uma empresa responsável por fazer estudos sobre a questão. O processo está parado há mais de um ano e não tem previsão de liberação. "É um trabalho de tal porte que não podemos fazer por meio da equipe da secretaria", afirma, quanto à complexidade do estudo. Outro fator considerado importante por ele é o investimento em tecnologia. Ações do tipo, segundo adiantou, serão notadas com a adoção de um sistema de sinais inteligentes, que já teve orçamento aprovado pelo Executivo. A novidade permitirá um ajuste dos semáforos, em tempo real, conforme a demanda dos cruzamentos. "Já visitamos algumas cidades e temos previsão de implantar ainda no ano que vem."
Por meio da assessoria, a Secretaria de Obras informou que duas trincheiras, três pontes e dois viadutos já contam com projeto executivo e devem ser licitadas até o final do primeiro trimestre de 2011. Conforme a pasta, são obras importantes, por meio das quais poderá ser viabilizado o binário da Avenida Brasil, uma das principais alternativas para desafogar o tráfego central.
Especialista diz que falta planejamento
Na avaliação do arquiteto e urbanista Klaus Chaves Alberto, a situação da cidade é consequência da falta de planejamento adequado em torno das questões urbanísticas. "Não existe uma secretaria de planejamento urbano, como acontece em algumas prefeituras pelo Brasil. A falta de um espaço para esse tipo de discussão acarreta em uma cidade sem diretrizes nesse sentido." Klaus também critica as últimas obras de reurbanização executadas nas vias centrais. "Foram adotados critérios muito focados na melhoria do sistema viário para automóveis e nada de efetivo para o planejamento da cidade como um todo."
De acordo com o especialista, é preciso uma preocupação maior com o transporte coletivo para que as pessoas possam, inclusive, abrir mão dos carros individuais. No caso de Juiz de Fora, Klaus considera o serviço "pouco maduro", não sendo compreendido como um sistema, de fato. "Isso precisa ser revisto. Para uma cidade que já foi vanguarda em planejamento urbano, é uma realidade muito triste." Como ele ilustra, municípios que trabalharam a fundo o transporte público foram transformados em espaços mais saudáveis, com o direito de ir e vir assegurado à população.
Projetos viários
"Infelizmente, a cidade parou no tempo e no espaço. Tem 30 anos que não há muita coisa nova, em termos de projetos viários." A afirmação é do presidente da Comissão Municipal de Segurança e Educação para o Trânsito (Comset), José Luiz Britto, que classifica a situação do Centro como "próxima do caos". Ainda, conforme acrescenta, o quadro de saturação começa a se alastrar para outros bairros, como Altos dos Passos, na região Sul, e Manoel Honório, na região Leste. O maior problema identificado por Britto é que, mesmo com tantas reclamações, as obras feitas pela Prefeitura são poucas, diante da real necessidade. "Estamos esperando até uma hora e meia por um ônibus e enfrentando engarrafamentos constantes."
Apesar de dezembro ser um mês atípico, Britto frisa que isso não pode servir como justificativa para tantos transtornos. "A cidade precisa estar preparada para receber um aumento de fluxo de uma hora para outra. O município está mal estruturado mesmo. Não tem como suportar a demanda", pontuou.
Esquema especial para o vestibular
Nos próximos três dias, quase 17 mil candidatos aos processos seletivos da UFJF estarão nas ruas da cidade. Começam amanhã as provas do Pism III, para cerca de dois mil inscritos e, a partir de segunda-feira, o vestibular convencional, que mobiliza, até terça-feira, por volta de 15 mil candidatos. A movimentação certamente trará gargalos no trânsito, sobretudo no entorno da UFJF. Uma prévia pôde ser vista na semana passada, durante a aplicação dos exames do Pism I e II, quando 11.800 estudantes viveram momentos de tensão por conta dos congestionamentos. Na Independência, próximo à Curva do Lacet, houve quem precisasse abandonar os veículos e seguir a pé.
Para amenizar os impactos no trânsito, Settra e UFJF prepararam um conjunto de medidas. A Avenida Pedro Henrique Krambeck, por exemplo, na Cidade Universitária, vai operar em mão única, assim como a Rua João Lourenço Kelmer, entre o portão da UFJF e o trevo, neste sentido. Com isso, a orientação para veículos que vão do Centro para a universidade é a seguinte: Avenida Pedro Henrique Krambeck, Rua Lauro Teles de Mesquita, Rua João Lourenço Kelmer. A Settra também vai interditar o acesso da Avenida Independência para a Rua Vicente Beghelli, no Bairro Dom Bosco, no período de maior tráfego.
Haverá, ainda, a interdição de vias que serão destinadas ao estacionamento. Isso será feito nas ruas Adolpho Kirchmaier, entre João Lourenço Kelmer e Pedro Krambeck; Virgulino João da Silva, entre a João Lourenço Kelmer e Pedro Krambeck; Joaquim Caetano, entre a Adolpho Kirchmaier e Virgulino João da Silva; Pedro Gerhein, entre a Joaquim Caetano e João Lourenço Kelmer e José Almério Oliveira, entre Virgulino João da Silva e Pedro Gerheim.

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