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sexta-feira, 23 de março de 2012

Materia do Tribuna de Minas

23 de Março de 2012 - 06:00

No município, população reclama de falta de policiais nos postos de bairros estratégicos, enquanto nas cidades que fazem divisa com o Rio projeto 'Cinturão de Segurança' não acontece efetivamente

Por Renata Brum
As áreas de entrada e saída de Juiz de Fora estão desguarnecidas de segurança, com postos policiais desativados ou nos quais o policiamento é feito de maneira restrita. Enquanto a população reclama da insegurança em bairros que ficam próximos às rodovias, a violência recrudesce nestas áreas, como o Cascatinha, na saída Sul da cidade, onde existe um Posto de Policiamento Comunitário da Polícia Militar, mas que não funciona 24 horas. O problema não se restringe ao município. Outras cidades da região que fazem divisa com o Rio de Janeiro também estão com o policiamento ostensivo aquém do esperado por serem pontos estratégicos, principalmente para fugas de criminosos de um estado para o outro. A Tribuna percorreu, na última semana, algumas áreas que fazem divisa com o estado fluminense, ainda dentro da Região Integrada de Segurança Pública (Risp) de Juiz de Fora, e não encontrou a "blindagem" prometida pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) com a proposta do projeto "Cinturão de Segurança", criado há cerca de cinco anos. Nas rodovias e nas entradas dos municípios, há postos de policiamento que já funcionaram, mas hoje estão fechados.
No Cascatinha, em horários e dias alternados em que o jornal esteve no local, apenas um militar foi encontrado na unidade, que não é estruturada com viaturas ou rádio. Só um telefone permite o contato do militar com o Centro de Operações da PM. A área está em foco pelas últimas ocorrências, que vão desde arrombamentos a apartamentos, tentativas de assaltos, roubos à luz do dia e sequestro-relâmpago, como o registrado na noite da última terça-feira. Entre terça e quarta-feira desta semana, três apartamentos foram arrombados entre os bairros Cascatinha e Estrela Sul, aumentando a sensação de insegurança.
Na região Sudeste, tanto nos bairros Santo Antônio como Vila Ideal, principais entradas para quem chega do Espírito Santo ou de cidades como Bicas e Leopoldina, os postos que já existiram no passado, hoje abrigam moradores de rua, são usados por dependentes de drogas ou servem de painel de propagandas. No Grama, Zona Nordeste, a PM permanece na unidade com um policial, o que, conforme a comunidade, não seria suficiente para evitar assaltos. Na região, há registros de roubos a lotérica, padaria e posto bancário.

Mudança de estratégia
Segundo o comandante da 4ª Região da PM, coronel Ronaldo Nazareth, não há como fechar a cidade, que cresceu muito nos últimos anos. "Os postos de policiamento são estratégias antigas. Não adianta colocar um militar na saída do Cascatinha, por exemplo, já que, agora, os bandidos conseguem deixar o município pelo Aeroporto, pelo Acesso Sul, e, futuramente, pela BR-440. No ano passado mesmo, fizemos uma enquete que mostrou que as pessoas preferem as viaturas aos postos." Coronel Ronaldo Nazareth explicou que eles podem transmitir sensação de segurança, mas não impedem a criminalidade. "A polícia tem mudado de estratégia e, atualmente, atuado mais na prevenção. Antigamente, havia os postos, mas não os projetos que existem hoje, como 'Patrulha rural', 'Patrulha escola', 'Patrulha de violência doméstica', entre outros. Ou seja, o portfólio de serviços da Polícia Militar aumentou. Muitos falam que não há efetivo, mas a cidade cresceu, e os serviços mudaram. Hoje nosso foco é a prevenção, atuar na profilaxia, fazendo um comparativo com a medicina. Mas, se precisar, temos pessoal para atuar como cirurgiões, ou seja, na repressão." O coronel ressalta ainda que, quando necessário, são realizadas as operações "Região segura", envolvendo a cidade e municípios vizinhos.

Criminosos não encontram barreiras

Em Juiz de Fora, o assassinato de um camelô de 33 anos, natural do Rio de Janeiro, com 12 tiros, em plena luz do dia, na confluência das avenidas dos Andradas e Rio Branco com a Rua Silva Jardim, no Centro, mostrou que há pessoas vindo de outros lugares para agirem em Juiz de Fora. Dois dos envolvidos no crime, ocorrido em janeiro, são de Montes Claros e vieram ao município para cometer o assassinato, motivado por um acerto de contas relacionado ao tráfico de entorpecentes. Outras ocorrências apontam ainda para criminosos que agem em outros locais, mas que procuram saída em Juiz de Fora. Em janeiro de 2010, um Kia Sportage roubado no Rio foi localizado em Juiz de Fora após o motorista furar o pedágio na BR-040, em Simão Pereira. De acordo com a PM, o homem fugiu no veículo em alta velocidade pela BR-040. Várias viaturas fizeram o cerco no Salvaterra, Zona Sul, mas o motorista escapou e só foi pego no estacionamento de um supermercado em Santa Luzia.
Além dos registros de criminosos de outros locais agindo na cidade, há ocorrências que confirmam a facilidade de os bandidos deixarem Juiz de Fora. Na última terça, um modelo juiz-forano, 23 anos, e uma estudante, 19, sofreram um sequestro-relâmpago, no Cascatinha, e os bandidos saíram do município sem problemas. Em janeiro de 2010, caso semelhante foi registrado no mesmo bairro. A vítima, 26, foi abandonada próximo ao Expominas, na BR-040, após perder o carro em um assalto à mão armada. No mesmo mês, assaltantes deixaram a cidade após um roubo em uma concessionária na Avenida Deusdedit Salgado.
Comerciantes e moradores próximos à saída Sul de Juiz de Fora cobram maior frequência de operações na área. "Se não reforçarem o policiamento aqui, principal entrada da cidade, os crimes vão continuar. De vez em quando, tem um policial no posto do Cascatinha, mas só um, sem viatura e nada mais", disparou um comerciante, 35. O dono de um comércio no Cascatinha, 45, teme até ser identificado, com medo de represálias da própria polícia. Ele revela a situação do posto: "A única coisa que fazem é deixar a luz acesa durante à noite. De dia, quase sempre está vazio." Uma auxiliar de escritório, 30, também relata a insegurança: "Estamos na entrada da cidade e, há muito tempo, também não vemos blitz aqui." Outro comerciante, 47, que já foi alvo de bandidos na área, sugere a melhoria da infraestrutura do posto. "Se precisam de mais militares, que abram concursos. A comunidade não pode pagar por isso."
Nas outras saídas da cidade, os relatos são semelhantes no Grama. "Fomos assaltados em fevereiro do ano passado e ficamos com medo. De vez em quando, fica um militar no posto, mas ele nem sai de lá. Se entrar um bandido aqui, ele nem vê. Tem cinco meses que trabalho aqui e nunca vi uma blitz", contou uma caixa lotérica. Já na Vila Ideal, empresários e moradores reclamam. "Nessa área, o tráfico é pesado e não há posto para barrar a entrada da criminalidade. Esse é um local estratégico, que deveria ser ocupado", disparou um auxiliar de escritório, 42.


Divisa de Minas com Rio sem policiamento

Uma placa indicativa do "Cinturão de Segurança" está instalada na divisa de Minas com o Rio de Janeiro no local onde fica, do lado fluminense, Monte Serrat, distrito de Levy Gasparian, e do lado mineiro, Paraibuna, localidade que pertence a Simão Pereira. O projeto, porém, parece se restringir a isso, já que o limite entre os dois estados está desprovido de policiamento ostensivo. Em Minas, o antigo posto está ocupado por um ex-morador de rua. Do outro lado, o trailer da PM do Rio foi desativado há menos de dois anos.
"Estamos abandonados. Além dos postos da PM, aqui já funcionou um de fiscalização, mas agora não há nada mais. Cruzamos a divisa sem nenhuma intervenção e sabemos que o trânsito de drogas aqui é intenso. Não era para o posto ter acabado", lamentou o aposentado Osmar Luiz Bonfante, 62 anos, morador de Monte Serrat. "Fizemos abaixo-assinado para não deixar o posto do Rio fechar depois que o de Minas foi desativado, mas não adiantou. De vez em quando, a polícia até vem, mas é para procurar foragidos. Ou seja, sabem do perigo de a criminalidade de um estado migrar para o outro", disse a moradora Renata Souza, 27.
Além da falta de postos policiais nas divisas, o reduzido efetivo expõe a fragilidade do "Cinturão de Segurança". No destacamento de Simão Pereira, só nove militares estão lotados para cobrir o município, as áreas de divisa e a Zona Rural, com uma viatura. Um dos militares, que preferiu não ser identificado, reconhece que o ideal seria que pudesse ter os postos nas áreas de divisa. "Seria ideal, mas, em Minas, falta efetivo, tem sempre militar reformando, outro entrando de férias. No Rio, o posto também foi desativado, talvez pelo mesmo motivo. Por termos uma particularidade, sermos área de desvio de pedágio, temos que intensificar o patrulhamento nas estradas."
No último dia 5, três jovens assaltaram a agência dos Correios de Simão Pereira. Eles, que são moradores de Juiz de Fora e teriam envolvimento com uma facção criminosa suspeita de tráfico, roubos e homicídios, deixaram a cidade tranquilamente em um Kadett branco, com armas, e seguiram para Simão Pereira, onde praticaram o roubo. Na volta, a ação da polícia foi mais efetiva com um cerco montado no Salvaterra, Zona Sul, onde os suspeitos acabaram presos com o dinheiro do roubo.
Evitar migração
Em outras áreas de fronteiras, como no município de Chiador, que faz divisa com as cidades fluminenses de Três Rios, Anta e Sapucaia, a situação não é diferente. Apesar de o comandante do destacamento local, sargento Edmilson Adriano, garantir que são realizadas operações rotineiras, geralmente em conjunto com a PM do Rio, o posto na estrada entre Três Rios e Chiador também está desativado, e o destacamento conta com oito militares e duas viaturas. De acordo com o comandante, os militares são orientados a realizar blitze e operações preventivas e repressivas para evitar a migração de criminosos de um estado para o outro. "Com isso, temos conseguido reduzir os índices de criminalidade." Mesmo assim, em maio do ano passado, uma agência bancária da cidade teve um prejuízo de cerca de R$ 42 mil. Os assaltantes teriam entrado no banco pela porta principal e retirado o dinheiro do caixa eletrônico.
Em Além Paraíba, a ausência de policiamento nas entradas e saídas da Zona Urbana e a proximidade com cidades do Rio contribuem para o aumento dos crimes violentos. Em novembro passado, um assalto a mão armada em uma drogaria em Vila Caxias, um dos locais mais movimentados da parte alta da cidade, deixou a comunidade apreensiva. O dono da farmácia acabou ferido na ocorrência, e depoimentos de testemunhas à Polícia Civil dão conta de que o assaltante seria um jovem de Jamapará, distrito de Sapucaia (RJ). Também no ano passado, um comerciante foi assassinado, e o irmão ficou gravemente ferido em um assalto em Angustura, distrito de Além Paraíba.

Verbas e viaturas distribuídas entre 2008 e 2010

Durante quatro meses, a Tribuna buscou informações sobre o projeto "Cinturão de Segurança" na região de Juiz de Fora. A única resposta da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) neste período é de que foram enviados para a Região Integrada de Segurança Pública de Juiz de Fora, entre 2008 e 2010, R$ 5,6 milhões para a PM e R$ 1,4 milhão para a Polícia Civil, além de 140 novas viaturas e novos equipamentos. Em todo o estado, ainda conforme a Seds, 402 municípios localizados a um raio de 50 quilômetros de qualquer divisa de Minas Gerais foram beneficiados com 550 viaturas e investimentos da ordem de R$ 67 milhões.
Já o comandante da 4ª Região da Polícia Militar, coronel Ronaldo Nazareth, destacou que o projeto tem funcionado, garantindo mais infraestrutura e aumento de efetivo nas cidades de divisa, o que colabora para impedir a entrada de criminosos do Rio em Minas. "Em todos os episódios que as forças de segurança fecharam o Rio de Janeiro, não tivemos registro de entrada de nenhum criminoso aqui. Nossa tolerância é zero para bandidos de outros estados. Não temos espaço para eles", garantiu o comandante, lembrando que, além do 'Cinturão de Segurança', em 2009, foi realizado um seminário integrado onde foi firmado um protocolo de intenções entre as polícias do Rio e de Minas. Em 2010, as polícias militares de Minas Gerais e Rio de Janeiro realizaram operações nas áreas de divisa entre os dois estados, como Belmiro Braga, Simão Pereira, Santana do Deserto, Santa Bárbara do Monte Verde, Santa Rita do Jacutinga e Chiador em Minas, e em outros oito municípios fluminenses.

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